Cachoeira Água Branca, em Pedro Gomes, torna-se área oficialmente protegida no Dia Mundial do Meio Ambiente

Bulhõesdigital

Em uma conquista histórica para o meio ambiente e o turismo sustentável de Mato Grosso do Sul, a cachoeira Água Branca, localizada em Pedro Gomes, foi oficialmente transformada em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). A formalização ocorreu no Dia Mundial do Meio Ambiente, nesta quinta-feira (5 de junho), com a publicação da Portaria ICMBio nº 2081, assinada pelo presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Pires.

A nova RPPN abrange 29,26 hectares e representa o fim de uma longa batalha travada por ambientalistas, moradores e o proprietário da área, Nelson Mira Martins, contra a instalação de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) que ameaçava destruir 80% da queda d’água. Com a criação da reserva, a cachoeira passa a ter proteção ambiental permanente, o que também abre caminho para projetos de ecoturismo e preservação da biodiversidade local.

“A localização da RPPN é muito estratégica. A cachoeira é o fim de um sistema hídrico que começa em um platô degradado e desce para a região do Pantanal”, destacou Laércio Machado, consultor da Ecoa (Ecologia e Ação), que deu apoio técnico ao processo de criação da reserva.

Um patrimônio natural ameaçado por décadas

Com mais de 80 metros de queda livre, a cachoeira Água Branca é a segunda maior do estado e está inserida no Corredor de Biodiversidade Emas-Taquari, dentro da Serra de Maracaju, uma área prioritária para conservação na Bacia do Alto Paraguai. Desde os anos 2000, um projeto de usina hidrelétrica colocava em risco a integridade do local, paralisando inclusive os planos do proprietário de construir uma pousada na região.

“Quando comprei, já deixei essa parte pensando em construir uma pousada. Mas aí veio o projeto da PCH, que ia acabar com 80% da cachoeira. Ficamos dez anos brigando. Agora, com a RPPN, tenho segurança jurídica para investir”, comemorou Nelson Martins.

A licença da PCH foi suspensa em 2024 após intensa mobilização, com apoio do Ministério Público de MS, organizações ambientais e a imprensa. A criação da RPPN foi a solução definitiva encontrada para assegurar a preservação da área, com processo finalizado em apenas seis meses, graças ao envolvimento da Ecoa e à documentação regularizada do proprietário.

Potencial para ecoturismo e benefícios ao município

Além da própria cachoeira, a RPPN Água Branca possui vegetação semelhante à Mata Atlântica, cavernas, trilhas e locais ideais para a prática de rapel e caminhadas ecológicas. A região tem alto potencial para o ecoturismo, e a criação da reserva pode abrir acesso a recursos do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), além de parcerias com instituições como o Sebrae e a Secretaria de Turismo. Pedro Gomes também poderá ser beneficiado pelo ICMS Ecológico, repasse estadual destinado a municípios que preservam o meio ambiente.

Linha do tempo da conquista:

• 1986 – Início da compra de lotes na área por Nelson Martins

• 1991 – Propriedade se expande até alcançar a cachoeira

• Anos 2000 – Projeto de PCH ameaça redução drástica da queda d’água

• 2019–2024 – Mobilização com apoio do MPMS, campanhas e imprensa

• Maio de 2024 – Suspensão da licença da PCH em âmbitos estadual e federal

• Junho de 2025 – ICMBio oficializa a criação da RPPN Água Branca

Próximos passos

O trabalho agora se volta para a elaboração do plano de manejo da área e o desenvolvimento de infraestrutura para visitação, com foco na educação ambiental, turismo sustentável e valorização do patrimônio natural de Pedro Gomes.

Com essa iniciativa, a cachoeira Água Branca deixa de ser símbolo de ameaça ambiental e passa a representar esperança, preservação e desenvolvimento sustentável para o município e toda a região norte de Mato Grosso do Sul.

Imagem: Divulgação