Promessa adiada: Usina de etanol em Paranaíba segue no papel e gera lucro… para outro estado

Bulhõesdigital
Mais de uma década após o anúncio da instalação de uma usina de etanol e açúcar em Paranaíba, a população local volta a ser surpreendida com mais um adiamento do projeto. A planta industrial da Usina Coruripe, prometida desde 2013 com investimento estimado de R$ 600 milhões e projeção de até 350 empregos diretos, permanece sem previsão para sair do papel.
A empresa alegou, nesta semana, que o atual cenário econômico, marcado por altas taxas de juros, inviabilizou o avanço do empreendimento tanto em Paranaíba quanto na cidade de União de Minas (MG), onde também havia plano de expansão. O presidente da companhia, Mario Lorencatto, afirmou que o adiamento visa preservar o equilíbrio financeiro diante de uma dívida de R$ 3,75 bilhões. Segundo ele, 80% do caixa operacional está comprometido com o pagamento dessa dívida.
Cana é de Paranaíba, mas riqueza vai para Minas
Mesmo sem a usina, a produção de cana-de-açúcar em Paranaíba está ativa: são cerca de 10 mil hectares cultivados, com todo o volume sendo transportado para unidades da Coruripe em Minas Gerais. O município sul-mato-grossense segue contribuindo com a cadeia produtiva da empresa — sem que a cidade colha os frutos desse potencial.
O mais preocupante, segundo moradores e lideranças locais, é o fato de que a empresa continuou se beneficiando de incentivos fiscais estaduais. A redução de 67% no ICMS, mantida ao longo de três gestões, vem sendo aplicada mesmo sem a concretização da planta. Isso gera questionamentos sobre a viabilidade do modelo e os reais benefícios da parceria para a economia regional.
Enquanto Paranaíba espera, Coruripe avança em MG
Os números reforçam o desequilíbrio: em 2024, mesmo com leve queda na moagem e produção, a Usina Coruripe alcançou receita líquida de R$ 4,8 bilhões. Para a safra 2025/26, 75% da produção já foi vendida antecipadamente com preços acima da média de mercado.
Enquanto isso, em Limeira do Oeste (MG), a empresa investiu pesado, ampliando sua capacidade de moagem para 2,5 milhões de toneladas. Hoje, a capacidade total de processamento da Coruripe atinge 16,2 milhões de toneladas por ano — nenhuma delas em Mato Grosso do Sul.
Desconfiança e frustração
Em Paranaíba, o sentimento é de abandono. A expectativa de desenvolvimento e geração de empregos foi substituída por uma espera que se arrasta por mais de dez anos. A população questiona a falta de contrapartidas e cobra posicionamento firme do poder público quanto à responsabilidade da empresa em cumprir seus compromissos.
O caso se torna um exemplo emblemático da urgência de mecanismos mais eficazes para garantir que promessas de investimento se convertam em ações concretas. Afinal, enquanto Minas Gerais colhe os lucros, Paranaíba continua apenas plantando esperanças.
Imagem: Divulgação