
Enquanto as obras prometidas seguem no papel, a tarifa de pedágio na BR-163 em Mato Grosso do Sul vai aumentar mais uma vez. A partir de 14 de junho, motoristas que trafegam pelos 847 km da rodovia administrada pela MSVia vão pagar 5,53% a mais, conforme decisão publicada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) nesta terça-feira (4), no Diário Oficial da União.
A justificativa oficial é o reajuste anual com base na inflação (IPCA), previsto no contrato de concessão. Mas o que está revoltando condutores e caminhoneiros é que o aumento chega antes das tão aguardadas obras de duplicação e melhorias que se arrastam há mais de uma década.
Lucro recorde sem entregar melhorias
Apesar de o tráfego de veículos ter crescido apenas 1,6%, a arrecadação com pedágios mais que dobrou no primeiro trimestre deste ano: saltou de R$ 42,2 milhões para R$ 108,4 milhões, um crescimento de 156%. Isso fez com que a MSVia, que pertence ao grupo Motiva (novo nome da CCR), deixasse um prejuízo de R$ 97 milhões e passasse a lucrar R$ 21,1 milhões, segundo balanço da própria empresa.
E como isso aconteceu? Graças a um acordo contábil com o governo federal assinado no fim de 2024, que permitiu à concessionária contabilizar 100% da receita dos pedágios — antes, só 47,3% da arrecadação era considerada oficialmente.
Cobram caro, entregam pouco
Enquanto o caixa da empresa engorda, as obras seguem em ritmo lento ou nem começaram. O cronograma prevê a retomada dos serviços ainda em junho, mas a duplicação completa — incluindo o Anel Viário de Campo Grande — só deve ser entregue em 2030.
Em mais de 10 anos de concessão, a MSVia já coleciona atrasos, obras inacabadas e reclamações de usuários. Hoje, motoristas seguem pagando tarifas elevadas por uma rodovia que ainda tem trechos perigosos, sem iluminação adequada, passarelas ou vias de escape.
População paga o preço
Para quem depende da BR-163 todos os dias — seja para trabalhar, transportar mercadorias ou visitar familiares —, o reajuste é mais um golpe no bolso. São nove praças de pedágio espalhadas pelo estado, de Mundo Novo a Sonora, que afetam diretamente o custo do transporte, do frete e até dos alimentos.
“É um absurdo! A gente paga, paga, e não vê melhora nenhuma. Cadê a duplicação? Cadê a segurança prometida?”, reclama o caminhoneiro Francisco da Cunha, ouvido pela reportagem.
Cadê a fiscalização?
O aumento da tarifa é mais um reflexo da fragilidade do modelo de concessão e da falta de fiscalização efetiva por parte da ANTT. Enquanto isso, a concessionária obtém lucros milionários e empurra promessas para os próximos anos.
A população sul-mato-grossense segue esperando, e pagando.
Foto: Maikon Leal
Fonte: Maikon Leal