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A empresa Motiva, nova identidade da antiga CCR MSVia, obteve lucro líquido de R$ 480 milhões apenas com a concessão da BR-163 em Mato Grosso do Sul no segundo trimestre de 2025. O resultado expressivo ocorre logo após a empresa vencer, em maio, o leilão que manteve seu controle sobre a rodovia pelos próximos 30 anos — até 2055.
Com 845,9 quilômetros de extensão atravessando o estado de Norte a Sul, a BR-163 é considerada uma das vias federais mais estratégicas para o escoamento de produção agrícola e circulação de cargas no Centro-Oeste.
Leilão com proposta mínima e menos duplicações
A proposta vencedora da Motiva no leilão estipulou tarifa de R$ 0,07521 por quilômetro rodado — o valor mínimo permitido pelo edital da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Apesar da vitória, a nova fase do contrato prevê menos duplicações do que anteriormente projetado.
Estão previstas a duplicação de apenas 203 km da rodovia, 147 km de faixas adicionais, 28,8 km de contornos urbanos, 55 obras de arte especiais (como viadutos e passarelas) e 23 km de marginais. O novo plano gerou críticas de representantes do setor de transporte, que lamentaram a decisão de manter a empresa na concessão.
Tráfego em queda, mas pedágio em alta
Mesmo com uma redução de 6,8% no tráfego de veículos na BR-163 entre os segundos trimestres de 2024 e 2025, a empresa registrou uma elevação de 61,9% na tarifa média de pedágio. Essa tarifa é calculada com base na receita total de pedágio dividida pelo número de veículos equivalentes que utilizam a rodovia.
Ainda assim, os números financeiros da Motiva seguem em alta. Somente em 2024, foram arrecadados R$ 229 milhões em pedágios em MS, com tráfego de 19,5 milhões de veículos. O relatório aponta também que, entre 2014 e 2017, a CCR MSVia captou quase R$ 4 bilhões em recursos, mas investiu apenas R$ 1,8 milhão no período, segundo números divulgados pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.
Pressão por transparência e apurações
Após a renovação da concessão, a Motiva deverá prestar contas trimestralmente sobre a execução do contrato e os avanços das obras prometidas. O histórico da empresa, entretanto, segue sob críticas e investigação: em maio deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou um inquérito para apurar a atuação da concessionária.
Na época do leilão, o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), Aroldo Cedraz, também expressou preocupação com o modelo adotado na nova proposta, destacando “incertezas” no processo e falhas históricas da gestão anterior da CCR.
Com a renovação da concessão e lucros crescentes, a expectativa agora recai sobre a efetivação das obras prometidas e a fiscalização da execução contratual para garantir melhorias concretas na infraestrutura da BR-163 — uma rodovia com histórico de acidentes e cobranças pela modernização.
Imagem: Divulgação