Expansão da capacidade de fábricas de celulose no Brasil: o Projeto Sucuriú e o novo ciclo competitivo global

O Brasil está entrando em uma nova fase de crescimento acelerado no setor de celulose. Após anos de liderança consolidada em produtividade florestal e participação de mercado global, o país volta ao centro das discussões estratégicas com o anúncio de megaprojetaos que podem redefinir a dinâmica global da celulose de fibra curta. Entre eles, o mais emblemático é o Projeto Sucuriú da Arauco — um investimento estimado em US$ 4,6 bilhões, com capacidade projetada de 3,5 milhões de toneladas anuais.
Essa onda de expansão chega em um momento de mudança estrutural no mercado global de celulose, marcado por pressão de oferta, ciclos de preço mais curtos e demanda crescente por rastreabilidade, sustentabilidade e competitividade industrial.
ARAUCO SUCURIÚ: O NOVO “GAME CHANGER” NA CELULOSE BRASILEIRA
Localizado no Mato Grosso do Sul — agora o epicentro da expansão florestal brasileira — Sucuriú é mais do que uma nova fábrica. Ele se posiciona como um polo industrial integrado, alinhado às demandas ambientais e às novas exigências de escala do setor.
O projeto inclui:
- 3,5 milhões de toneladas/ano de celulose, colocando-o entre os maiores do mundo;
- Linhas altamente automatizadas com uso intensivo de energia renovável;
- Suprimento integrado de plantações de eucalipto de alta produtividade;
- Forte perfil exportador, reforçando o corredor logístico do Centro-Oeste.
Esse investimento eleva o papel da Arauco no mercado global de celulose de fibra curta, aumentando a competição com gigantes regionais consolidados como Suzano e Eldorado.
E O BRASIL SEGUE ACELERANDO: NOVOS PROJETOS NO HORIZONTE
Sucuriú não é um caso isolado. Relatórios de mercado e monitoramentos setoriais indicam que o Brasil tem mais de 10 milhões de toneladas/ano de nova capacidade potencial em estudo ou desenvolvimento inicial, incluindo:
- Expansões de linhas existentes em MS, PR e BA;
- Projetos greenfield sendo avaliados por grupos nacionais e estrangeiros;
- Novas áreas florestais sendo asseguradas para sustentar o suprimento de médio e longo prazo.
Acompanhamentos da indústria, como os da Globalwood, já projetam que o Brasil liderará as adições de capacidade global entre 2025 e 2030 — respondendo por mais de 65% do crescimento líquido global em celulose de fibra curta.
IMPACTO NO EQUILÍBRIO GLOBAL DE OFERTA
O mercado global de celulose é extremamente sensível aos ciclos de investimento. A entrada de uma única fábrica com 3,5 milhões de toneladas reorganiza o equilíbrio de oferta, especialmente porque:
- A demanda global cresce apenas 1,5%–2% ao ano;
- Projetos dessa escala adicionam capacidade concentrada em períodos curtos;
- A maior parte do crescimento de consumo está concentrada na Ásia, especialmente na China.
Mesmo com demanda estável, períodos de excesso de oferta são inevitáveis, pressionando preços e margens — um padrão observado em ciclos anteriores.
A vantagem do Brasil é sua liderança estrutural em custos. Suas plantações de eucalipto continuam sendo a referência global em produtividade florestal, protegendo a rentabilidade mesmo em cenários de preços baixos.
COMPETITIVIDADE GLOBAL: A DISPUTA É ESCALA E SUSTENTABILIDADE
À medida que novas capacidades entram no sistema global, a fronteira competitiva se desloca de quanto você produz para quão eficientemente você produz. O Brasil mantém vantagens estratégicas em três áreas:
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Produtividade florestal
Ciclos curtos de rotação, altos rendimentos e silvicultura avançada garantem ao Brasil o menor custo por tonelada.
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Polos industriais orientados à exportação
O modelo brasileiro de fábricas de megascala projetadas para o mercado global permite alta eficiência logística e confiabilidade operacional.
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Sustentabilidade como ativo competitivo
Novos projetos como Sucuriú são estruturados em torno de metas de descarbonização, certificações e rastreabilidade — cada vez mais críticas para o acesso aos mercados europeu e norte-americano.
RISCOS ESTRATÉGICOS NO HORIZONTE
Apesar de suas vantagens, o setor enfrenta três riscos relevantes:
• Volatilidade de preços
A adição de grandes volumes inevitavelmente comprime margens em certos ciclos.
• Risco de concentração de mercado
A China absorve mais de 40% das exportações brasileiras de celulose — um nível de dependência que exige diversificação.
• Pressão regulatória e socioambiental
Megaprojetos demandam licenciamento robusto, engajamento comunitário e monitoramento sistemático de impactos ambientais.
Esses fatores podem influenciar o ritmo e a viabilidade de futuros investimentos.
O QUE ESPERAR DO NOVO CICLO
O Brasil está posicionado para consolidar uma nova onda de crescimento na produção de celulose, fortalecendo sua liderança no mercado global. A combinação de escala industrial, competitividade florestal e capacidade de investimento cria um cenário favorável — mas que exige equilíbrio estratégico, diversificação de mercados e inovação tecnológica.
O Projeto Sucuriú é apenas o início de um movimento mais amplo. A próxima década testará a capacidade do setor de expandir enquanto mantém o equilíbrio global e avança em sustentabilidade e criação de valor.
A corrida pela próxima fronteira da indústria global de celulose começou — e o Brasil, mais uma vez, está no centro dela.
Foto: Zig Koch



